O livro Sagarana nasceu como Contos e passou por uma maratona de modificações para ser publicado
Você sabia que o livro Sagarana, de João Guimarães Rosa, passou por onze revisões, antes de ser publicado, em 1946? Essa informação está no livro João Cabral de Melo Neto, uma biografia, de Ivan Marques (Editora Todavia, 2021 ― finalista do Prêmio Jabuti):
“[…] o escritor tratava de um combate sem fim com os editores de Sagarana. Até o livro ser publicado, as provas passaram por um total de onze revisões” (pág. 118).
Nesse trecho do livro, Marques revela o ambiente do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) do pós-Guerra, cheio de escritores. Guimarães Rosa já trabalhava como diplomata há alguns anos, quanto o poeta João Cabral passou no concurso para seguir essa carreira. Antonio Houaiss também (aliás, Cabral dividiu moradia com o famoso filólogo, um dos mais prestigiados dicionaristas da língua portuguesa).
Na atual edição de Sagarana, publicado pela Global Editora, o prefácio de Walnice Nogueira Galvão dá conta de outro grande trabalho realizado neste livro, que nasceu com o título de Contos, para participar de um concurso literário de 1938, no Rio de Janeiro, em que ficou em segundo lugar:
“[…] o escritor passou oito anos corrigindo os originais inéditos. Podou e comprimiu, reduzindo meio milheiro de páginas a perto da metade.”
Que tal? Foi pouco o trabalho neste livro? Aí vai uma série de perguntas para a reflexão de quem faz edição, revisão, preparação, tradução ou escreve textos para livros: é possível, hoje em dia, uma dedicação assim? Quem diria que é excessiva, que não vale a pena? O livro seria reconhecido e aclamado da mesma forma se tivesse passado por menos intervenções?