Conheça melhor Marcos Marcionilo, professor dos cursos de edição, preparação, revisão de textos e gramática para editores e revisores
Nasci em Upatininga, até hoje, um distrito do município de Aliança, cidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco, a antiga Lagoa Seca.
Vivi em Nazaré da Mata, PE [para estudar no Ginásio Santa Cristina], depois vim para São Paulo à hora de fazer o então segundo grau, ou científico, na Pia Sociedade de São Paulo. Morei também em Campinas, SP, onde fiz parte da graduação em filosofia, concluída na PUC-SP.
Os livros são mesmo “o encontro” de minha vida, ocorrido ainda bem cedo, no ensino fundamental I [o então ensino primário].
Virei leitor bem novo, movido pela timidez: gibis, fotonovelas, revistas de variedades, livros religiosos e toda a literatura que me caísse sob os olhos, ao lado das leituras escolares. Certa vez, houve um concurso de leitura na 2ª série. Dona Zezita Burity, a professora, não me deixou participar, dizendo que eu já sabia ler com total proficiência. Em compensação, me fez um bolo de consolação, para não me entristecer pela não participação. O escrivão de minha vila, José Gomes da Fonseca, ou “Seu Zé Barbeiro”, tinha uma extensa biblioteca. Então, eu ia às aulas pela manhã e dedicava as tardes ao silêncio cheio de vozes daquelas estantes. Essa era minha rotina. Idiossincrático como era, “Zé Barbeiro” não admitia muita gente em seu “santuário”. Fui um desses eleitos. Por isso, posso dizer:
vivi o “encontro” e me tornei, desde então, “operário das letras”.
Tecer textos no registro da transposição de sentidos é minha brincadeira predileta. Juro que largaria absolutamente tudo para me retirar e me dedicar à tradução. Vivo dos textos e para eles desde os anos 1980. Do vasto campo da edição, elejo a tradução como o lugar onde gostaria de atuar a vida toda.
Sou péssimo vendedor de livros. Tenho uma vergonha invencível de assumir qualquer função ligada às vendas.
Por sorte, minha sócia Andréia Custódio nasceu para a difusão de nosso catálogo. Não fora por ela, a Parábola Editorial possivelmente não existiria.
Sou volúvel e adoro o vozerio que escuto em minha biblioteca. Meus livros são todos vozes que se tornam conhecidas, íntimas até, e conversam comigo sobre tudo, sobre todos.
O livro de minha vida é o livro sendo livro em cada momento. E se esse livro do momento não me prender, o abandono a meio caminho.
Porém, há um livro, As lágrimas do assassino, de Anne-Laure Bondoux, uma tradução que fiz para a Melhoramentos em 2008 ou 2009, ao qual sempre volto, tamanho é o inesperado da trama e do desenho dos personagens. É do tipo literatura juvenil que desacomoda e faz ver um recanto nunca visitado das relações amorosas…
Uma vida meio longa sempre tem muitos encontros… desses impactantes, desses fundantes!
Encontrar Hans Küng em Tübingen foi um momento de não esquecer jamais; o encontro com um analista lacaniano, Welson Barbato, com quem me analisei por onze anos, produz efeitos diários em minha vida; ser devassado pelo olhar inquisitivo e terno de Sueli Carneiro na sede do Geledés foi outro (ninguém passa impunemente pelo olhar fundo de nossa filósofa antirracista e teórica do feminismo negro). Contudo, o grande encontro de minha vida aconteceu com Padre Gabriel Corral Galache, SJ, durante muitos anos diretor das Edições e meu mestre editor. Essa convivência estreita de quinze anos me faz ser quem sou.
Momento Ministério Especial da Leitura e do Livro – Ministro Marcos Marcionilo:
Investir durante os próximos 500 anos na educação básica [da educação infantil ao ensino médio].
Nossos 522 anos de história estão perdidos em termos de sociedade leitora, mas enquanto houver mundo, segue vivo o plano de letrar o Brasil. Todos sabemos que a escola tem como papel fundamental formar leitores, especialmente num país em que a porcentagem de mães/pais leitores é irrisória ainda. A trajetória é essa: se a mãe/pai não leem, não formam crianças leitoras em casa, cabendo à escola resgatar essa dívida com as gerações futuras e saldá-la!
Marcos Marcionilo, professor
As aulas têm sido uma possibilidade de sistematizar minimamente, para poder comunicar num registro didático, o que aprendo todo dia no “lutar com palavras” que é mediar cultura via “objetos de ler”. O momento marcante dessa vivência é quando consigo comunicar a função da dúvida como instrumento de formação de boas e bons profissionais de texto.
Derrubar as certezas, o correto, o fixo e mostrar que fazer textos é encarar oceanos de possibilidades só navegáveis com dúvida e pesquisa constantes é sempre o melhor momento. Um verbo bom para isso é “deslocar”!
Pensando em momento marcante, há, entre tantos, um ocorrido numa oficina de leitura em Floriano, PI: uma aluna de pertinência afrorreligiosa se levanta diante de uma classe de tradição majoritariamente cristã e declara a que tradição religiosa pertence. Foi um dos momentos mais fortes que já terei vivido em sala. Diante daquele depoimento, me uni a ela no gesto de desdemonizar o panteão africano.