Livro: Não verás país nenhum | Autor: Ignácio de Loyola Brandão | Ano de lançamento: 1981
Falta de água, Amazônia destruída, desmandos e descasos de governantes, mas o amor, o espírito crítico, a resistência também são elementos dessa história publicada em 1981, pela editora Codecri (atualmente na Global Editora).
Seria tão bom que pudéssemos ler este livro de Ignácio de Loyola Brandão sem criar identificação com nosso atual momento… mas adianto aos que ainda não viajaram pela narrativa do personagem Souza que isto é praticamente impossível.
Distopia, ficção científica: não há gavetas para conter esta obra. É literatura brasileira, é um clássico, e ponto final.
Loyola será o autor homenageado no Prêmio Jabuti desse ano, que tem como curador Marcos Marcionilo, professor na LabPub.
Abaixo, um trecho da 27ª edição da obra, pela Global Editora, de 2008, página 107:
[conversam os personagens Souza e Tadeu, na narrativa muito marcada pelos diálogos]
— Fecharam nossos olhos durante os anos abertos.
— É trocadilho?
— Coincidência. Estávamos iludidos, não prestamos atenção às coisas que aconteciam.
— Não se esqueça de que aconteciam secretamente. O Esquema decidia a portas fechadas. De repente, vinha uma campanha de preparação. Algumas semanas de amortecimento e ficávamos anestesiados. Por oito anos abastecemos o mundo de madeira. Convencidos de que não havia problemas, aceitamos que vendessem pedaços da Amazônia. Pequenos trechos, diziam. Áreas escolhidas por cientistas, para que não se alterassem os ecossistemas. Até que, um dia, as fotos tiradas pelos satélites revelaram a devastação. Todo o miolo da floresta dizimado, irremediavelmente. O resto durou pouco, em alguns anos o deserto tomou conta.
As capas da edição mais recente e a antiga, da Codecri/Pasquim, com quarta capa escrita por Moacir Amâncio: “[…]um palavrão de quinhentas páginas”.