Tradução, edição, escrita: o mundo dos livros tá na moda!

By 3 de outubro de 2023 Blog

Tradutora e aluna de cursos da LabPub lançou marca de roupas e acessórios com temática do que a gente faz e gosta muito por aqui: as coisas do livro

Viviane Almada mais do que vestiu a camisa da profissão que escolheu ainda bem jovem. A tradutora ajuda outras pessoas da área a vestir o que ama fazer da vida. A fundadora da marca Tradushirts, de roupas e acessórios com temática de tradução, edição, escrita e outros motivos ligados aos fazeres do livro, nos conta aqui sua trajetória, que é a trajetória de seu empreendimento. Para conhecer a marca, acesse aqui o Instagram (https://www.instagram.com/tradushirts/) ou o site (https://montink.com/tradushirts/)

Eu decidi que queria ser tradutora lá no terceiro ano do ensino médio.

A partir desse ponto, foquei meus estudos em coisas que acreditei que precisaria para seguir na área. Fiz faculdade de letras e de tradução, me especializei em tradução audiovisual e, é claro, fiz vários cursos livres.  No início, foi muito difícil compreender como funcionava o mercado, como se fazia a precificação de um trabalho e tudo mais.

Fiquei um ano nessa vida sofrida até ser contratada como tradutora em tempo integral para uma empresa de educação médica EAD.

Nessa época eu trabalhava das 8h às 18h no escritório e ia para a casa fazer cursos ou trabalhar em algum frila. Foi quando fiz o curso de História da Literatura Nerd com a Cláudia Fusco, a Mentoria de Tradução d’A Pretexto, a Oficina de Tradução de Games com a Mary e o Edmo… e também trabalhei na preparação de texto para o meu primeiro trabalho editorial, o livro O Legado da Estrada de Ferro Sorocabana em Itapetininga, do Igor Chaves. Claro, entreguei vários outros trabalhos nesse tempo.

Tudo isso para dizer que em novembro de 2022 fui diagnosticada com burnout e desligada da empresa logo depois de um afastamento médico.

A primeira virada: vida de freelancer

Foi então que decidi focar na famosa “vida de frila”, porque a suposta segurança da CLT também me deixou na mão quando precisei. Com o acerto na mão e alguns clientes interessantes pedindo trabalhos, resolvi pular com tudo. Mas logo eu descobri que nem tudo são flores na vida de frila, e as vacas magras começaram a me assombrar.

Com essa nuvem obscura pairando, fiz cursos sobre prospecção e a minha visão de mercado mudou completamente (obrigada, Laura!) e fiz alguns testes para editoras maravilhosas com quem ainda espero trabalhar, mas sabemos que a fila do editorial anda a passos de tartaruga gorda de uma perna só.

Nesse meio tempo, enquanto continuo a prospectar com editoras, também voltei a trabalhar na área de games.

Atualmente faço parte da equipe da Tavernlight Games, onde traduzo o maravilhoso Ravendawn, e da equipe da Keywords Studios. Hoje em dia acabo trabalhando mais com games por ser um mercado mais ágil e, portanto, com maior fluxo de trabalho. Contudo, também faço tradução editorial para a Leabhar Books (inclusive dia 23 de outubro é o lançamento do meu primeiro livro com eles, Implacáveis, da J.J. McAvoy).

 

A segunda virada: vida de empresária

No meio de toda essa bagunça, sempre desenhei. Desenhava no papel, em telas, em paredes e mais recentemente, no iPad. Quando fiz o curso de Formação do Tradutor de Livros com o Guilherme Kroll e o Cassius Medauar, esse último sempre lembrava a turma da Primeira Lei de Kroll: nada é à prova de idiotas.

Foi aí que brinquei com uma colega de turma que a gente deveria fazer camisetas disso. Bastou um anúncio do Instagram para descobrir a mágica do dropshipping e uma noite mal dormida, a Tradushirts nasceu.

É claro, as ideias não são apenas minhas. Muitos colegas ajudam com a inspiração e com críticas construtivas sobre as estampas e estratégias usadas. A arte Hater é uma criação baseada em uma ideia do João Rodrigues, tradutor de Fence e de Garota, Serpente, Espinho; as palavras usadas vieram de um grupo de tradutores destilando ódio quanto ao linguajar “faria-limer”. A estampa Contrate Tradutores surgiu de uma sugestão da Vanessa Thiago, colega de LabPub e de Leabhar Books. A camiseta Língua é uma criação baseada no TCC da Karoline Melo, tradutora da série Manual de Assassinato para Boas Garotas, sobre linguagem neutra. Existe o plano de adicionar créditos para todas essas criações na descrição do site, mas o tempo voa e eu sou só uma. Logo vem aí, espero.

Fora isso, sempre senti falta de camisetas voltadas para esse mundo de livros, literatura e leitura que não fossem os batidíssimos “cheiro de livro novo, movido a café, olhos de cigana oblíqua e dissimulada etc.”, e mais especificamente, brincadeiras e piadas da nossa área.

Gosto da ideia de camisetas que são bonitas e que nos ajudam a identificar um colega sofr… digo, tradutor. Também penso que muitas delas trazem mensagens importantes, ainda que disfarçadas com humor.

Mais do que identificar uns aos outros, quero que as camisetas sejam uma nova forma de ativismo pela melhoria do trabalho editorial em todas as frentes. Quero que vejam as camisetas e vejam pessoas que trabalham com livros. Gente que precisa ser reconhecida, mais bem remunerada, e provavelmente de umas férias.

A verdade é que nunca me vi como empreendedora. Enquanto tradutora, penso de forma muito parecida ao que a querida Laura Folgueira disse em um post no seu Instagram:

“Via de regra, o freelancer trabalha sozinho, não tem caixa na PJ (ou seja, fatura, paga impostos e contador e fica com o resto), não contrata mais gente, não tem escala, não determina as regras do jogo e, muitas vezes, não estabelece o preço do serviço. Ele vive dos serviços prestados ali, no um a um, lutando pra pagar as contas, preocupado com se um dia vai conseguir se aposentar (e talvez não vá). Ele não decide vou assumir um risco para talvez ganhar muito lá na frente; vai tocando sua carreira, alguns com mais sucesso, outros com menos, e se organizando do melhor jeito possível. Já o empreendedor planeja a empresa, projeta um faturamento anual com base em número de vendas, tem fluxo de caixa pra pagar quem contrata, tem sócios… por aí vai.  ou gente que consulta porque ele não entende de um monte de áreas essenciais. Ele aposta que vai conseguir escalar seus ganhos e que isso vai valer a pena. Não depende apenas da própria mão de obra, tem acesso a políticas de fomento para fazer o negócio crescer e determina quando, como, para quem e por quanto vai vender.”

Como suposta empreendedora e vendedora, a Tradushirts foi resultado de uma noite mal dormida devido à minha ansiedade e um dolorosíssimo pé na bunda, e eu jamais imaginei que teria toda essa repercussão, muito menos que estaria dando entrevistas sobre uma ideia meio maluca que tive em um momento que minha cabeça simplesmente não conseguia parar de funcionar. Começou como um teste para ver se haveria interesse nesse tipo de coisa, mas muito mais como uma forma de eu ter camisetas que eu queria vestir.

Atualmente, as vendas têm me surpreendido e tenho considerado parcerias e novas coleções do nosso mercado para ver se é algo que pode ser mantido ou apenas um boom causado pela novidade. Existem planos para o site se manter em funcionamento por seis meses, e depois disso quem vai decidir mesmo é o faturamento. Apesar de ser uma empreitada de custo relativamente baixo, ainda toma muito tempo e estratégia que poderia estar sendo utilizado em outras coisas.

No geral, penso que os desafios como vendedora e tradutora são muito semelhantes.

A prospecção de novos clientes, encontrar um equilíbrio entre tempo investido e tempo perdido, criatividade, revisão do produto, todas são coisas presentes em ambos. O meu desafio mais difícil em relação à empresa, definitivamente é essa área da propaganda. Eu tenho ideias malucas e um olho razoável para design, o que tem dado certo.

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