Diretor acadêmico da LabPub, André Castro mostra como funciona a segunda feira de livros mais importante do mundo
por André Castro, fundador e diretor acadêmico da LabPub
A Feira do Livro de Londres (LBF – The London Book Fair) começou nessa terça, 18 de abril, e dura três dias. Acontece, como de costume, no Olympia London ― um centro de convenções tradicional de Londres, inaugurado em 1886, com uma excelente localização, bem no centro da cidade (pode-se chegar ao Hyde Park, por exemplo, com uma caminhada de 30 minutos). E como em quase todos os locais de maior interesse na cidade, possui uma estação de trem na porta.
O tema da LBF este ano é Defining the future of creative content ― algo como Definindo o futuro do conteúdo criativo. São esperados 25 mil visitantes.
A Feira de Londres é considerada pelos editores brasileiros o segundo evento mais importante para a negociação de direitos, ficando atrás da Feira de Frankfurt. De fato a concorrente alemã possui mais expositores e agentes literários, embora visitar Londres seja muito melhor do que Frankfurt.
Quando pensamos em feira de livros sempre nos vem à cabeça a nossa Bienal. Mas aqui a coisa é bem diferente.
Não existe exposição de livros para venda. Também não se vê mesa de autógrafo com autores. Na verdade, o espaço dedicado a palestra de autores é bem pequeno e não tem destaque na programação. É uma feira para profissionais.
As editoras que possuem estandes na LBF estão aqui para vender direitos de publicação. Quase todas são inglesas, embora existam expositores estrangeiros mas sempre em espaços menores. Existe um espaço bem significativo dedicado aos agentes literários, que se resume a uma mesa com quatro cadeiras para cada representante. Como metade do faturamento editorial inglês vem de exportação, compreende-se a mecânica da feira.
Alguns países também colocam estandes, alguns são enormes como os da Espanha, França, Alemanha, Turquia, Arábia Saudita e China. Todos com a mesma dinâmica, repleto de mesas para venda de direitos.
Como em todos os eventos esportivos e culturais que têm acontecido na Inglaterra, muito destaque e apoio à Ucrânia. Palestras e espaços são dedicados à literatura e ao povo ucraniano.
Para que ser serve a feira para nós? Relacionamento, compra de direitos e palestras. E, claro, visitar Londres.
Para relacionamento vale a pena tentar descobrir editoras semelhantes à sua, para tentar fazer um benchmark e ver o que pode se aplicado em seu negócio. Em geral, o inglês é global e gosta de conversar com estrangeiros. Falar que é brasileiro ajuda muito: nosso mercado é relevante e nossa imagem quase sempre está ligada a coisas positivas.
Compra de diretos é o principal pilar da feira, ela foi criada para isso. Sempre bom frisar que as reuniões devem ser marcadas com antecedência, porque as agendas já estão fechadas quando o evento começa. Fica quase possível conseguir uma brecha de algum agente, diretamente, aqui.
Sobre palestras, elas são muitas e acontecem em espaços curiosos, quase sempre em “buracos” da feira.
No meio dos estandes mesmo. Neste ano eles foram divididos da seguinte forma: Main Stage – o principal espaço, tem palestra do autor do dia, discussão de problemas do setor e tendências; Author HQ – espaço patrocinado pela KDP, trata de assuntos ligados à autores e ilustradores; English PEN – fala de liberdade de expressão e literatura internacional, com muita ênfase na Ucrânia; Literacy Translation Centre – aqui é o espaço dos tradutores, palestras que tratam de aspectos ligados a esse público; Tech Theatre – tecnologia, TikTok, áudio livro e afins; Olympia Theatre – este espaço são para palestras exclusivas para os associados da Booksellers Association
O recomendável é se programar bem, antes do evento, para saber quais deseja assistir, organizando a agenda. Acontece de ter várias interessantes ao mesmo tempo, e aí não tem jeito, precisa priorizar.
Turismo, necessário turismo
Aproveitando que vem para cá, reserve sempre um bom tempo para explorar a cidade. Se for a primeira vez vá aos principais pontos turísticos, claro. Mas deixe um tempo para conhecer locais ligados ao mercado editorial. Vá nas livrarias icônicas como a Foyles e a Stanfords. Mas também em alguma Waterstones, se puder (prefira a de Piccadilly). Visite a The British Library, uma biblioteca sensacional em todos os aspectos, pelo acervo e por tudo o que a envolve, como as atividades culturais e os espaços para leitura. O prédio é lindo e super bem localizado, às margens do Tâmisa.
Uma curiosidade: Londres é uma cidade enorme dividida em Boroughs, espécie de bairro, mas com muito mais autonomia administrativa e financeira do que os similares nacionais. Uma parte central destes Boroughs é o seu sistema de bibliotecas. Sim, sistema! Cada um deles possui diversas bibliotecas interligadas. Nestes locais, além de livros, você tem atividades culturais e educacionais como cursos de idiomas, aulas de canto, rodas de leitura, atividades para bebês, além de acesso a diversos computadores. Tudo gratuito. Vale a visita em uma delas para entender a dinâmica de como se constrói a noção de cidadania tendo a cultura como ponto focal.
Espero ver muitos alunos da LabPub aqui nos próximos anos! Garanto que adorarão a Feira e a cidade.