Atrás das ondas, um encontro com Ferlinghetti
O poeta Lawrence Ferlinghetti morreu, segunda-feira passada, 22 de fevereiro. Tinha 101 anos. Fez parte da geração Beat nos Estados Unidos, de Jack Kerouac e Allen Ginsberg, entre outros.
De acordo com a nota publicada pelo Jornal Rascunho, especializado em literatura, o trabalho de Ferlinghetti é ainda pouco traduzido no Brasil: “Há disponíveis pela L&PM versões de Um parque de diversões da cabeça, em tradução de Eduardo Bueno e Leonardo Fróes, e Amor nos tempos de fúria, vertido para o português por Rodrigo Breunig. Além disso, André Caramuru Aubert publicou traduções no próprio Rascunho.
Mas tem um jornalista brasileiro que admira há muito tempo este beat mais bem-comportado, que fundou a livraria e editora City Lights (e nela por exemplo publicou O uivo, de Ginsberg). Caio Salles, piloto de coisas sem motor desde as pedras de Atibaia, interior de São Paulo, acumulava também boas horas de voo nos poemas do americano distante, quando teve a chance de ver o cara ao vivo e em cores, na sua São Francisco.
Foi em novembro de 2012. Salles fazia como repórter a cobertura do Campeonato Mundial de Surf. Mas também viajou aos Estados Unidos com a missão de, além de registrar a etapa, produzir um documentário para o canal de televisão ESPN Brasil. A ideia foi contar a história desse espírito de contracultura da cidade, envolvendo skate e surf, esportes muito fortes na Califórnia. Para isso, contaram com um personagem, que saía da praia, onde rolava o campeonato, e visitava pontos-chave de São Francisco. Na foto, que é um instantâneo do vídeo produzido, o cara aparece de bicicleta na frente da lendária City Lights. Mas não foi ali o encontro com o poeta.
Ferlinghetti não iria conceder entrevista, mas Salles descobriu que ele estaria em uma galeria, fazendo uma apresentação para amigos e convidados. Mas que estaria tudo bem gravar um pouco a ação. Eis que encontrou o poeta&livreiro&editor, recitando poemas seus.
“Estava muito cheio o lugar, a gente meio constrangido de montar luz e câmera. Eu sempre fui um apaixonado pelo movimento Beat. Estar ali foi realmente emocionante: imaginar o que já tinha passado, quem já o tinha ouvido por ali, as conversas que teve. Inusitado! Estando ali pra cobrir um campeonato de surf e podendo trazer de volta um material como esse”, lembrou Caio Salles, que foi verdadeiramente ponte entre diferentes mundos, como podemos ser em nossos melhores momentos.